UMA PORTA PARA A AVENTURA

Uma infancia cheia de sonhos e um sonho de infancia cheio de aventuras.

domingo, 7 de outubro de 2007

A moringa

Começava o mês de julho. O vento gelado chegava trazendo o desconforto do frio nos lares dos sertanejos. As únicas blusas feitas de flanelas na velha máquina Vigorelli da Irondina fazia a diferença na casa.
As paisagens brancas dos nevoeiros cobiçavam a maginação dos meninos e as aventuras fictícias forjavam histórias nas fantasias da infância.
Naqiuele mês estavam todos de férias escolares e as tarefas diárias eram mais divididas. As responsabilidades pequenas ficavam com os pequenos e para o Neno, como caçula da casa, sobrava sempre o caminho da mina para buscar água com a moringa.
A moringa era uma espécie de pote de barro cerâmico totalmente fechado com duas aberturas: uma com um buraco maior, com formato de orelha, para ser a entrada de água e a outra com um furo fino (mais ou menos dois milimetros) com formato de mamilo de vaca, por onde, os mais experientes tpmavam água se ter a necessidade de usar caneca, despejando a água diremente na boca.
Aquela rotina era necessária por conta de que a água do poço de trinta e cinco palmos (chamada de cisterna), era muito salobra e não servia para o consumo potável. Mal dava para lavar as roupas empoeiradas da lida diária, que precisavam ser fervidas com sabão para tirar o excesso de sujeira.
Eram quase mil metros de caminhada pelos trilhos de pedregulho até a baixada do córrego. A mina d’água ficava do outro lado e a travessia ficava por conta de uma ponte feita com troncos que nunca era usada, pois dava-se preferencia pelas pinguelas de dois paus colocadas sobres as águas límpidas ligando as duas barrancas pouco profundas do Córrego do Tieta.
Da correnteza das águas subiam pequenas nuvens de fumaça parecendo borbulhar de fervura indicando a diferença da temperatura que era suportada vestidos apenas com as blusas de flanelas. Os dentes batiam trêmulos produzindo sons de percussão, tentando aquecer os pequenos músculos, que pareciam pedras de gelos no arrepio das correntes de ventos, que soprava de vez em quando.
A mina ficava encrostada na beirada da cerca do lado das terras dos Vilela. O Aparecido havia feito algumas adaptações para colher a água. Um grande buraco com tábuas e uma bica de telhas trazia a água de uma cor meio azulada com segurança e limpa para dentro da vazilha que a coletava. De vez em quando era preciso fazer a manutenção da bica por causa da formação de limbos.
A vazão da água não era muito boa nesta época, e parecia que havia saído da geladeira direto para a bica, de tão gelada que era. Nos meses das águas ela jorrava mais forte. O Neno aproveitava os momentos de espera da moringa se encher para cavar um buraco com o barro branco de saibro com uma pequena vara encontrada por ali. O frio não liberava muita energia para reinar. Os dentes ainda tirintavam.
A moringa cheia era colocada dentro de um saco de estopas ( usado para estocar café) e colocado sobre a costa. O caminho de volta era mais penoso pois a ladeira de pedras, exigia um esforço físico grande para equilibrar o peso da moringa que insistia sempre a levar-nos para baixo.
Neno parava prá descansar e ficava a ver na baixada os movimentos dos irmãos que ainda manipulavam os regadores de folhas de lata, molhando as verduras de folhas que a geada da noite havia coberto com seu manto branco. As plantações de verduras e legumes eram uma opção de sobrevivência na roça, pois eram delas que vinham os alimentos que também era comercializado para obter dinheiro para o macarrão, o açúcar e o sal de todo dia.
Os trabalhos nesta época eram poucos por causa da estiagem que limitavam o crescimento das sementeiras nas plantações de café. Guiados pelas orientações do chefe da casa, todos ficavam a cuidar das pequenas culturas de subsistência mantida aos redores da casa: abacaxi, mandioca, milho, pomar de frutas, cana de açúcar e batata-doce.
As férias trabalhadas na roça tem um sabor especial de aventura sistêmica: é como um monitor que determina uma gincana com várias atividades a executar e cada qual com o seu potencial vai concluindo e fechando a gincana diária com o objetivo de seguir no outro dia com objetivos pré-determinados condicionalmente: se chover , se o milho granar, se o café secar, se o tempo melhorar, se as férias acabar.
E o pequeno Neno seguia com sua moringa morro acima. Algumas vezes o caminho seria a roça de café que distanciava mais ou menos mil metros de casa, utilizando os atalhos pelas roças do Sr. Carlos. A Moringa era depois passada para um dos irmãos mais velho.
Naquela manhã o trabalho seria de plantar ramas de batata doce para garantir as mudas.

Um comentário:

Anônimo disse...

Maravilhoso.
São histórioas reais e de grande emoção.


Parabéns

UM FORTE ABRAÇO AOS AMIGOS

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Desde o dia 01 de setembro de 2007 estou publicando minhas Memórias. Faz parte de um projeto de livro que deverá ser lançado no dia 18 de janeiro 2010 no espaço da ESCALIBUR no Distrito de Sousas em Campinas.

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Paulo Freitas