UMA PORTA PARA A AVENTURA

Uma infancia cheia de sonhos e um sonho de infancia cheio de aventuras.

segunda-feira, 15 de março de 2010

CURVAS DE NÍVEL

O sol nem sonhava em aparecer no horizonte e as batidas do machado já se confundia com os piados e os cantos dos passarinhos que nervosos pela invasão do seu habitat, buscavam socorro em lugares mais seguros da mata. Era o Aparecido que trabalhava já há alguns dias na preparação das terras para a cultura do café.Alguma ajuda do Compadre Paulo e do Compadre João, mas o trabalho mais pesado ele mesmo sentiu nos braços e nas costas. “Rube, Mirnadel, forma outra lera por ali. Esses gaios de anjico deixa que eu vô cortá mais pequeno senão ocêis não consegue carregá.”“Papai, a mamãe mandou o sinhor tirá um parmito prá nóis levá pra janta. Tem um ali embaixo, perto daquela arueira. Ele já tá bão prá cortá.” – A mirnadel mostrava apontando para um capão de mato ainda por cortar.O extrativismo do palmito guarirova e macaúva, era uma ação normal naquele tempo. A preocupação de reposição natural já fazia parte da cultura. Nenhuma árvore-mãe do coqueiro era abatida e todos os “filhotes” eram preservados com o maior carinho.“Vem cá Rube, me ajuda a tirá o coqueiro. A mirnadel vai mais cedo e leva prá sua mãe. Depois ela aproveita pra ajudá ela a arrumá a janta prá nóis.”O menino seguiu em direção ao pai numa picada que dava direto na árvore do coqueiro que seria transformado logo mais no jantar da família.Algumas semanas e uma clareira já se via na mata. Os troncos dos angico iam se acumulando enquanto as ramas mais leves vão se amontoando em leras num desenho sinuoso que o patrão insiste em chamar de curvas-de-nível, uma proposta de técnica nova de cultivo para evitar a erosão. O barulho se calava somente quando o sol se punha e a cada amanhecer uma nova etapa do trabalho se realizava.O clarão se fez num todo e uma área de dois alqueires foi ao chão. Da estrada até a divisa das terras do Sr. Carlos era tudo derrubada. Um crime ecológico necessário.Derrubar, descoivarar, destocar. Estes eram os verbos mais pronunciados naqueles tempos de preparação da terra. O fogo culturalmente era o grande auxiliar no trabalho de limpeza da terra. Depois de fazer os aceros em toda a volta da derrubada, era tocado fogo nas coivaras e as línguas das chamas iam devorando tudo noite a dentro. Algumas madeiras de cerne mais duro como a pataca, demoravam vários dias se queimando. Durante a noite, quando o vento soprava mais forte, pareciam pequenos dragões a soltar rajadas de estrelas salpicando de brasas o chão negro da escuridão.A terra limpa afofada pela chuva que veio em boa hora, trouxe a responsabilidade de iniciar a plantação do café. Projeto de todo aquele trabalho.“Traça a linha, curva à direita , curva à esquerda. Curva de nível. As linhas das covas devem seguir o traçado do nível do solo, para que a água das chuvas se desloquem sempre na lateral e não provoquem erosões.” - A técnica de plantio devia seguir à risca. E as orientações vinham do patrão.“Curvas de nível.” - Orientava o Sr. Augusto Vasconcelos que supervisionava toda a preparação do terreno.Depois das linhas traçadas, vão ser preparadas covas onde serão colocadas as mudas, chamadas de “balainhos”. Foi um trabalho duro. De “vanga” na mão ( vanga era a ferramenta usada para fazer as covas), os buracos quadrados de quarenta centímetros com quarenta de profundidade ( mais ou menos) eram feitos pela força física. (Hoje não se faz mais essas covas, as mudas de café são plantadas ao nível do solo). Foram quatro mil covas, foram quatro mil mudas.Ao meio de cada “rua” de café eram plantadas culturas regulares como o milho, o arroz e o feijão. Em cada vão de pé de café sempre nascia um mamoeiro, um pé de melancia, de melão. Era a festa dos meninos. Cada fruta colhida substituía a caneca d’água quando a sede apertava e a moringa estava distante. As covas de café deveriam ser limpas com freqüência, pois a terra da capina e as folhas das culturas auxiliares se encarregavam de cobrir as mudas de café ainda tenras e poderiam condená-las ao sacrifício.A alegria foi quando as primeiras flores branquinhas se abriram no cafezal. Era de manhã e o sol nem tinha saído e os meninos estavam à postos para mais um dia de trabalho. A Zilda foi a primeira a perceber uma flor, e depois outra e cada um saiu correndo encontrando outras muitas que desabrocharam naquela noite, exalando um cheiro gostoso. E as abelhas já rodeavam com seu zum zum zum , levando nos pés o polem da fertilização. Era a previsão que roça estava pronta para produzir muitos frutos e garantir o sustento da família. E mais uma vez o Aparecido dizia: Graças a Deus.

2 comentários:

Anônimo disse...

Meu amigo passei para conhecer seu blog ele é espetacular, show, not°10 desejo muito sucesso em sua caminhada e objetivo no seu Hiper blog e que DEUS ilumine seus caminhos e da sua família
Um grande abraço e tudo de bom
Ass:Rodrigo Rocha

Unknown disse...

oi meu nome é Rosana e estou procurando por folhas de arvores de algodao de roça pois minha tia esta doente ,e prescisa muito tomar o cha dessas folhas,si vcs pudessem mi agudar a conseguir essas folhas ficarei muito grata pela ajuda!obrigado!

UM FORTE ABRAÇO AOS AMIGOS

Obrigado por visitar este espaço.
Desde o dia 01 de setembro de 2007 estou publicando minhas Memórias. Faz parte de um projeto de livro que deverá ser lançado no dia 18 de janeiro 2010 no espaço da ESCALIBUR no Distrito de Sousas em Campinas.

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Paulo Freitas