UMA PORTA PARA A AVENTURA

Uma infancia cheia de sonhos e um sonho de infancia cheio de aventuras.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A GATINHA CHANA

A GATINHA CHANA

Depois da casa barreada e os acerto da colheita com o Sr. Zeíco, a mudança foi feita ainda naquele mês. O caminhão do “Seu Chiquim Pedro” um pequeno sitiante da vizinhança, estava a postos cheio de coisas pra descarregar. Para as crianças foi uma festa. Casa nova, amigos novos. As aventuras para os pequenos começara logo na chegada.
Os animais ainda se adaptavam ao novo ambiente. O cachorro Perigo, filho da cadela Campina logo se pôs a urinar pra todo canto, e logo se escafedeu no mato a correr algum preá que se colocara assustado com todo aquele movimento.
Tinha também a gata Chana, que parecia não entender bem aquela mudança. O lugar preferido dela era o paiol de milho e até então não havia se encontrado em toda casa. Miava alto parecendo querer uma explicação lovável.
- Paulinho, pega a Chana, dá um pouco de comida prá ela. Sinão ela não se acustuma e vamimbora.” – A mãe atenta a todos os detalhes, estava preocupada com o pequeno animal que tinha a função de caçar os ratos e comundongos que insistia em vir furar os sacos de arroz e farinha que ficavam na dispensa da casa.
O menino, filho caçula, saiu a correr atrás da gata para pegá-la. Conseguiu agarrá-la em cima da cama tentando pular a janela.
- Peguei mamãe, cadê a cumida dela?” (Para o menino Paulinho aquilo seria uma grande brincadeira.).
- Taí na trempa do fugão. Mistura um pôco de arroiz cum feijão e põe neste prato de esmarte amassado. Sigura ela um pouco pr’ela cumê, depois pode sortá que ela vai ficano acustumada.”
A gata Chana ficou logo seduzida pelos encantos daquele menino e começou a comer devagarinho o prato de comida, até lamber as bordas de feijão respingado que a pouca coordenação do caçula deixou no caminho da concha do caldeirão ao prato. Um afago a mais não faz mal a ninguém. Dali a pouco a gata estava rolando num trapo velho escolhido num canto do quarto onde repousavam uma pilha de roupas e panos que ainda estava prá arrumar. O caçula se encantou com o animal e esqueceu totalmente o trabalho de descarregamento da mudança.
- Paulinho, larga mão dessa gata um pôco e vem já pra me ajudá a guardá esses trem na cozinha. Pega aquele bule ali e põe em cima do fugão. Pega a chaleira tamém.
O menino fez de conta que não ouviu e continou a afagar a gata que já parecia estar no seu habitat natural.
- Peraí que eu vô dá um jeito nesse muleque. – Gritou o pai, vendo a desobediência do menino à mãe.
- Vem prá cá já sinão eu te pego de cinta.
Num pulo a gata saltou para um lado e o Paulinho do outro. Pegou a chaleira e o bule e levou para a cozinha, colocou em cima do fogão e se apresentou à mãe.
- Tem mais arguma coisa prá levá, mamãe?
- Pegue esses prato embruiado nos guardanapo e vai pono em cima do guarda-comida. Dispois nóis guarda direito.
Todo mundo estava envolvido. As poucas coisas da casa iam tomando os seus lugares. As meninas cuidavam das roupas, das louças, dos utensílios. Aos homens sobravam as coisas mais pesadas e mais rústicas como as coisas da dispensa, o estoque de arroz, de feijão, de açúcar e de sal.
- Papai, nóis vai colocá o saco de sal no chão memo? – perguntou o Rube sabendo que na outra casa o sal ficava num girau para não pegar umidade.
- Põe aí por enquanto, dipois eu faço dois cavalete e com umas ripa de guairova nós faiz um girau novo e põe tudo em cima. - O pai falava com convicção, pois ele sabia como ninguém trabalhar a madeira e as idéias.
- Parecido, nóis esquecemo de arranjá um lugá pro pote. Dispois ocê tem que fazê um girarzinho pra por no canto da cozinha. Acho que naquele canto do outro lado do fogão, alí parece ser mais fresco. – Era a Irondina que estabelecia os espaços: o armário, a mesa, as cadeiras, o guarda-louça, etc.
Ao final da tarde, uma pausa para o descanso e para saborear um bolinho gostoso com café fresquinho feito no fogão de lenha ainda novinho, construido pelas mãos do mestre Aparecido.
Sentado no baldrame da porta da cozinha, o chefe da casa olhava os fundos e planejava a preparação do terreno onde seria construído o chiqueiro dos porcos. Era preciso ainda limpar, tirar os tocos e cortar as madeiras no mato para a cerca.

O tempo foi passando e o lugar foi se transformando: uma roça de mandioca, uns pés de abacaxi, uma mangueira, um pé de tamarino. As cercas e piquetes foram delimitando os espaços e criando ambientes. O chiqueiro dos porcos foi construído com troncos fincados na vertical. Dentro uma pequena cobertura com telhas para proteger os coxos onde se colocava as lavagens (sobra de comida) e o milho debulhado. Este espaço era importante, pois da criação de porcos dependia a sobrevivência da família. Dos porcos se tiravam a gordura para as frituras e a carne para a mistura do dia a dia. Um novo mundo e uma nova história. Era a “nossa casa” como dizia o Aparecido. O carinho e a paixão que sentia por este pedaço de chão transformava todas as coisas que construía em uma obra de arte. E tudo foi se transformando numa grande galeria. Uma galeria que ficou marcado nos corações daquela família e nos versos que rabiscava nas folhas soltas de caderno que sobrava das lições dos meninos.

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UM FORTE ABRAÇO AOS AMIGOS

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Desde o dia 01 de setembro de 2007 estou publicando minhas Memórias. Faz parte de um projeto de livro que deverá ser lançado no dia 18 de janeiro 2010 no espaço da ESCALIBUR no Distrito de Sousas em Campinas.

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Paulo Freitas