UMA PORTA PARA A AVENTURA

Uma infancia cheia de sonhos e um sonho de infancia cheio de aventuras.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

A CAMINHO DA ESCOLA

O dia parecia igual aos outros. O sol ainda demorava para mostrar-se no horizonte e todos se movimentavam de um lado para outro na casa em busca de seus objetivos. Num canto da cozinha, sentado numa cadeira de palha de taboa, Paulinho olhava com os olhos ainda remelentos da noite de sono, as chamas do fogão que ardiam num tronco de madeira a esquentar a água da chaleira. Sua mãe cantarolava uma cantiga qualquer enquanto manipulava os utensílios para passar o café no coador de pano .
As pequenas labaredas do fogão induziam o pequeno a imagens de angústia e desespero. O seu coração batia apressado. Cada minuto que passava aumentava a sua palpitação e parecia que o seu peito ia explodir. A expectativa e a ansiedade de uma novo acontecimento, mexia com toda a sua integridade física e emocional. Hoje, era o dia . O primeiro dia.
- Vá lavar essa cara menino , dizia sua mãe.
- Vá tirar essas remelas!
E foi. E junto com ele seguia o desespero de enfrentar uma situação nova no seu pequeno mundo infantil.
Naquele tempo, a pouca vida social e a timidez lhe faziam sempre mergulhar em suas entranhas para vivenciar as suas estórias onde não existiam nada além do sítio, da família, dos animais e um mundo de aventuras solitárias.
- Pronto, já lavei o zóio. O que que eu faço agora? - pensou ele sentando-se novamente na cadeira e ficando a observar sua mãe no preparo dos caldeirões de comida que serviriam de merenda .
- Vamo, minino, vai trocá de roupa que os outro já tão pronto” - gritou sua mãe.
Ele demorou a levantar-se. O que ele queria mesmo é que a mãe lhe ajudasse naquelas tarefas. Que conversasse com ele . Que o encorajasse. Que lhe fizesse um gesto de carinho. Não! Ele sabia que não havia tempo e nem ambiente para isso. Com os seus seis anos de idade, já tinha alguma independência e qualquer carinho solicitado a mais era considerado “frescura” ou capricho.
- Anda logo, sinão o teu pai...
Antes que a mãe terminasse, se levantou depressa. Sabia que com a severidade do pai não se brincava e num instante estava de volta à cozinha:
- Pronto! Já tô pronto - resmungou baixinho perto de sua mãe.
- Então toma o café e pega o teu imborná e o teu carderão de cumida” - instruiu a mãe em meia voz. - Os teus irmãos já tão esperano no caminho.
O caldeirão era de alumínio, novinho em folha. Aquele brilho fosco lhe fazia lembrar o dia da compra no armazém da vila: foi a primeira dor no coração daquele menino. Não havia mais dúvida: havia chegado o tempo , não tinha mais volta.
Pegou o caldeirão pela alça. A tampa era fixada por um elástico branco preso nas duas argolas de fixação da alça. Arrumou o embornal no ombro e saiu.
- Bença mamãe!” - e a mãe respondeu com uma voz carinhosa, e um olhar de afago:
- Deus te abençoe , meu filho! Vá com Deus!
E seguiu o seu caminho atrás dos irmãos que já puxavam uma pequena distância .No embornal azul pendurado no pescoço trazia além de um lápis, um caderno e uma borracha, a esperança nova que seus pais depositavam no futuro daquele menino, que começava os primeiros passos da educação no grupo escolar e haveria de fazer o ginásio, formação inédita para filhos de roceiros daquela região.

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Desde o dia 01 de setembro de 2007 estou publicando minhas Memórias. Faz parte de um projeto de livro que deverá ser lançado no dia 18 de janeiro 2010 no espaço da ESCALIBUR no Distrito de Sousas em Campinas.

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Paulo Freitas